Detesto falar sobre o tempo — dos danos que ele traz, do que ficou, do que é, ou daquilo que, talvez, um dia venha a ser.
O tempo não me traz garantias, nem respostas que já deviam ter chegado.
O tempo deprime quem um dia acreditou ser feliz. Devasta aqueles que sempre pensaram ter tudo sob controlo. Corrói laços, desfaz correntes e deixa marcas irreversíveis em quem, só agora, aprendeu a sentir com o coração.
A ausência de respostas, a demora, e a falta de acção exigem decisões abonatórias, conclusivas, definitivas.
O tempo obriga-nos, mais uma vez, a ceder à razão, mesmo quando, em terapia, nos pedem para procurar o equilíbrio entre razão e emoção.
Deixar de ser duas metades e tornar-me numa só pessoa — a junção de peças contraditórias.
A esperança de alguma humanidade numa máquina que aprendeu a ser intocável, inabalável, inquebrável. Uma mudança que, sei, é necessária.
As consequências do tempo. As mudanças que dele advêm. As perdas de quem não soube ver o que tinha.
O tempo exige autorização para que se possa sentir. Mas não ensina o que fazer com as emoções, nem cura as mágoas.
Não quero magoar mais ninguém.
Não quero esperar por ninguém, nem quero que esperem por mim.
Já não tenho espaço, no presente, para o passado — e muito menos para o futuro.
Vivo o agora, porque é isso que o presente é: um tempo para ser e estar. Para todos, sim. Mas agora, acima de tudo, para mim.
Quero corrigir o que o tempo não perdoou.
Quero viver o que o tempo ainda não me permitiu.
Quero cantar os medos que ainda estão por chegar e dançar na esperança de que esta energia densa se liberte.
Se tiver de ficar sozinha, saberei que estarei em boa companhia.
Saberei cuidar de mim. E, sobretudo, saberei como me amar.
Ficar ou partir?
Ser ou estar?
Viver ou apenas existir?
Uma história por acabar.
25/07/2025
Sofia F.

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